Série Festas Juninas - Mingau de milho.

Foto de Sabores Ajinomoto
Hoje o Culinária & História vai falar do mingau de milho, este que provem do tupi e significa "alguém que empapa". A principio, era uma pasta espessa bastante usada em rituais, muitas vezes feita com as vísceras dos prisioneiros sacrificados pelos índios Tupinambás. Este doce também é chamado de "Cural" ou "Canjica".

A variação de nomes para o mingau de milho (como "cural" ou "canjica") está ligada a diferenças regionais, influências culturais e até ao tipo de preparo. Vamos destrinchar cada termo:
  • Origem dos Nomes
a) "Canjica" (mais comum no Sudeste/Sul)
Etimologia: Vem do termo quimbundo "kanjika", trazido por africanos escravizados, que designava um mingau de milho branco.

Diferença no preparo:

No Sudeste/Sul, "canjica" refere-se ao doce feito com milho branco (geralmente quebrado ou moído grosseiramente), cozido em leite, açúcar e canela.

No Nordeste, o mesmo prato é chamado de "mingau de milho" ou "cural" (quando mais ralo).

b) "Cural" (Nordeste, especialmente Bahia e Pernambuco)
Origem: Termo de origem africana (possivelmente iorubá ou banto), usado para versões mais líquidas do mingau.

Característica: Leva milho verde ralado ou fubá, com consistência menos espessa que a canjica tradicional.

c) "Mingau de Milho" (termo genérico)
Usado em várias regiões para designar a versão doce, mas no Norte/Nordeste pode ser salgado (com leite de coco e até camarão, em algumas variações).
  • Por que os Nomes Variam?
Influência indígena x africana x portuguesa:

Os povos indígenas já faziam papas de milho, mas os nomes atuais vêm majoritariamente de termos africanos (como "kanjika" e "cural").

Os portugueses adaptaram os nomes e adicionaram ingredientes como leite e açúcar.

Regionalismos:

No Rio Grande do Sul, "canjica" é chamada de "curau" (outra variação linguística).

Em Minas Gerais, "canjica" pode ser sinônimo de "mungunzá" (doce de milho branco com leite de coco).
  • Curiosidades sobre o Mingau de Milho

1. Origem Indígena e Adaptação Colonial

O mingau de milho tem base na alimentação dos povos indígenas brasileiros, que já preparavam papas de milho antes da colonização. Com a chegada dos portugueses, o prato ganhou novos ingredientes, como leite de vaca e açúcar, tornando-se uma comida reconfortante em fazendas e vilas coloniais.

2. Ligação com a Cultura Africana

Em África, pratos semelhantes (como o "ogi" na Nigéria e o "uji" em países da África Oriental) são feitos com milho ou sorgo.  Escravizados africanos no Brasil adaptaram suas técnicas de preparo, contribuindo para variações do mingau no Nordeste.

3. Mingau como Alimento Ritual e Medicinal

Em algumas comunidades de terreiro, o mingau de milho é oferecido a orixás como Nanã e Obaluaê, associados à cura e ancestralidade. Na medicina popular, era (e ainda é) usado para fortalecer doentes e crianças, por ser fácil de digerir.

4. Variações Regionais no Brasil
  • Nordeste: Mingau de milho verde, feito com leite de coco e canela.
  • Sudeste: Mingau de fubá (mais fino), comum em Minas Gerais e São Paulo.
  • Sul: Mingau de polenta, mais encorpado, às vezes servido com queijo.

5. Prato de Resistência e Sobrevivência

Durante secas e crises econômicas, o mingau de milho era uma alternativa barata para alimentar famílias, especialmente no interior do Brasil.




Sem mais delongas, a uma receita de Mingau de Milho!

Ingredientes:
  • 12 espigas grandes de milho verde
  • 3 l de leite
  • Açúcar o suficiente
  • Canela a gosto
  • 1 pitada de sal

Modo de preparo:

  • Retire o milho das espigas
  • Coloque 1 xícara do milho no liquidificador com 1 1/2 xícara de leite
  • Bata até ficar bem fininho
  • Coe em um coador fino até passar todo o caldo
  • Repita até bater todo o milho e coar
  • Leve ao fogo, mexendo e colocando o açúcar aos poucos, até ficar saboroso
  • Coloque 1 pitada de sal e continue mexendo, até ficar bem cozido
  • Coloque em refratário e polvilhe canela
  • Espere esfriar e leve para gelar.
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Referências Bibliográficas

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 12. ed. São Paulo: Global Editora, 2012.  (Explica as origens dos termos "canjica" e "cural" no contexto brasileiro.)

LODY, Raul. Tem Dendê, Tem Axé: Comidas dos Orixás na Bahia. Rio de Janeiro: Pallas, 2018. (Aborda o termo "cural" como herança africana na culinária baiana.)

ALMEIDA, Manuel Raimundo de. Cozinha Afro-Brasileira: Um Estudo Antropológico. Recife: Editora Massangana, 2010.  (Discute as variações regionais de pratos à base de milho.)

IPHAN. Inventário Nacional da Diversidade Linguística. Brasília: IPHAN, 2015.  (Registra os regionalismos para o mingau de milho no Brasil.)