Foto de Comida na Mesa |
O Culinária & História apresenta mais uma iguaria emblemática da doçaria luso-brasileira: o quindim. Contrariamente à crença popular, este doce não é de origem portuguesa, mas sim uma criação brasileira do período colonial, resultado do encontro entre técnicas europeias e ingredientes tropicais.
Origem e Etimologia
O nome "quindim" vem do termo quimbundo "kandandu" (ou "kindizi"), que significa "dengo" ou "encanto" – uma referência à sua textura delicada e sabor adocicado, associado à alegria nas culturas africanas.
A receita original brasileira substituiu as amêndoas (caras e raras no Brasil Colônia) pelo coco, abundante no litoral nordestino, e intensificou o uso de gemas, herdado da tradição conventual portuguesa.
A Lenda das Freiras e os Ovos
A história de que o quindim surgiu em conventos devido ao excesso de gemas (usadas para engomar roupas) é parte de um mito amplamente difundido, mas sem documentação histórica sólida. Na realidade, essa narrativa se aplica a outros doces portugueses, como os "ovos moles" de Aveiro.
No Brasil, o aproveitamento de gemas estava mais ligado à cultura dos engenhos de açúcar, onde ovos eram usados para clarificar caldos e sobras eram transformadas em doces.
Ingredientes e Adaptação
- Base tradicional: gemas, açúcar e coco ralado, assados em formas caramelizadas.
- Toque africano: a técnica de untar a forma com manteiga e açúcar derretido pode ter influência de pratos como o "fubá de angu", adaptado por escravizados.
Conhecendo a história dessa gostosura, vamos à receita tradicional:
- 9 gemas
- 2 ovos
- 350 g de açúcar peneirado
- 250 g de coco ralado fresco
- 1 colher (sopa) e 1/2 de manteiga
- Manteiga e açúcar para untar
Modo de preparo:
Coloque as gemas numa bacia e as bata por 1 minuto, acrescente o 2 ovos bata por aproximadamente 1 minuto também;
Coloque o açúcar e a manteiga e bata ate ficar com consistência de gemada;
Depois acrescente o coco ralado e bata apenas até ele se juntas a massa;
Unte as forminhas com manteiga e açúcar, e coloque a massa;
Pré-aqueça o fogo por 15 minutos na potência alta, depois coloque as forminhas na qual você colocou a massa no forno alto por 10 minutos;
Depois mude para a potência média por mais 30 minutos, retire-as, deixe-as esfriar e desenforme-as.
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Referências Bibliográficas
CASCUDO, Luís da Câmara. História da Alimentação no Brasil. 3. ed. São Paulo: Global Editora, 2011.
(Confirma a origem brasileira do quindim e sua etimologia africana.)
LODY, Raul. Açúcar e Sincretismo: Doce e Cultura na Bahia. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.
(Aborda a substituição de amêndoas por coco e o contexto dos engenhos.)
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
(Desmitifica a lenda das freiras e relaciona o uso de ovos à produção de açúcar.)
IPHAN. Patrimônio Imaterial Brasileiro: Doces Tradicionais. Brasília: IPHAN, 2017.
(Registra o quindim como patrimônio cultural, com técnicas de preparo tradicionais.)